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Jornada "Engajamentos contemporâneos: conexões com o mundo e ações que transformam o agora"


No dia 01/07/2022, tivemos pelo Departamento de Arteterapia a Jornada "Engajamentos Contemporâneos: conexões com o mundo e ações que transformam o agora".

A abertura do evento foi realizada pela psicóloga, arteterapeuta e fundadora da especialização em Arteterapia do Sedes, Selma Ciornai, com a fala Vicissitudes psíquicas e sofrimentos da sociedade do século XXI, trazendo algumas inquietações que estamos vivenciando ao redor do mundo.

Sua fala foi cirúrgica ao contextualizar sofrimentos psíquicos na contemporaneidade, as relações de competitivamente e egotismo que o sistema neo liberal capitalista nos impõe, a desconexão com os outros com nós mesmos e como a arteterapia pode possibilitar uma mudança deste cenário.

Falou sobre sonhos, esperanças, sensibilidades contrastando com tantos retrocessos, violências, indiferenças, impotências em um contexto onde está tão difícil compartilharmos nossas vulnerabilidades. Trazendo o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, discorreu sobre o impacto da sociedade do cansaço na qual somos exploradores de nós mesmos em busca de realizações, o que faz com que fiquemos desconectados da natureza e de nós.

Também trouxe em sua fala recortes da crônica de Marina Colasanti “Eu sei, mas não devia” (veja na íntegra ao fim do boletim) e ressaltou que não devemos nos acostumar com tudo o que vemos. Desencantamento, indignação, impotência, são os sentimentos que mais imperam diante das barbáries que nos rodeiam, sejam bem perto ou pelos noticiários.

Selma afirma que a saída para nos reconectarmos é não ficarmos sós, é convivermos com pessoas que se importam, cuja sensibilidade está sendo cultivada e preservada. Diz ainda que, como terapeutas, é importante sermos uma presença que ajuda a reestabelecer a ponte interrompida da pessoa com o mundo, no qual não se sente pertencente. A arte e Arteterapia ajudam as pessoas a vislumbrarem um mundo melhor, a perceberem que a realidade pode ser transformada, a despertar a sensibilidade diante essa desconexão.

Ainda cita Perls que diz que “a terapia é boa demais para usar só em consultórios”, ou seja, precisamos criar espaços e contextos onde não fiquemos sós, onde haja diálogos, onde podemos compartilhar sensibilidades, sonhos, esperanças, percepções e visões críticas para não nos acostumarmos. Não importa o alcance de nossas ações, mas sentir que fazemos algo em prol de um mundo melhor para não nos anestesiarmos.

Selma encerrou lindamente a sua fala cantando o Samba da Utopia.

Após essa abertura impactante, foi chamada a mesa “A ação social como instrumento catalisador da cidadania”. O primeiro convidado a falar foi Miguel Prata, ator, diretor, professor e gestor cultural. Coordena dois programas de formação da Secretaria Municipal de Cultura: PIÁ e Programa Vocacional.

Miguel trouxe em sua fala três fragmentos de história que ecoam relações da arte com pedagogia e políticas públicas e que mostram a importância de estarmos na relação com os outros. Ele retoma um pouco o que Selma traz na abertura e relata como criar espaços de convívio e pertencer a um território influenciam no engajamento com a cidade, na relação com o sensível e na mobilização da percepção da cidadania.

A primeira história que trouxe é de Celso Frateschi, que conta um pouco sobre a importância da mobilização de um grupo e de ações artísticas na formação de um espaço cultural que hoje é o Tendal da Lapa. Traz, também, Marilene Chauí, que fala sobre quatro perspectivas determinantes da proposta de cidadania cultural: uma definição alargada da cultura; uma definição da política da cultura; uma definição conceitual da cultura e uma definição dos sujeitos sociais como sujeitos históricos.

O segundo fragmento de memória é sobre a criação do núcleo de teatro vocacional, um programa público, e a história é de Maria Tendlau. Miguel ainda contextualizou alguns movimentos de artistas que influenciaram a criação de programas que consideram em suas ações o sentido de pertencimento, educações integradas e relação com o território.

O terceiro fragmento são depoimentos de dois artistas vocacionados. O primeiro é de Yves Remont e sua relação com a música, e o segundo é de Gabriel Andriola e sua relação com o teatro. Ambos relatando o impacto que isso trouxe para suas vidas.

Miguel finaliza sua fala ressaltando a busca da cidade como um lugar para ocupar e um lugar para habitar e comenta que acredita no vocacional ser um programa longevo, pois sempre soube estar na tensão entre ação e cidadania e sociedade civil e poder público, sempre em movimento e se transformando.

Após a fala de Miguel, foi convidada à mesa a psicóloga, arteterapeuta e Coordenadora do Centro de Assistência e Desenvolvimento Social do Sedes, Betania Norgren.

Betania iniciou sua fala com a lembrança de uma frase que disse a uma amiga, que devemos ser uma pedrinha que lançamos no lago e que reverbera, que cada um de nós tem a sua contribuição dentro de uma rede. Sempre buscando trabalhar com ações sociais, trouxe conceitos de cidadania, direitos, deveres, justiça social e ressaltou que intervenção social não é caridade, mas é uma questão de responsabilidade social.

Trazendo estatísticas, a escassez de políticas públicas e o contexto de que a realidade não é igual para todos em nosso país, fala da importância de fazermos o que estiver ao nosso alcance e do objetivo claro, pensamento sistêmico, promoção de saúde e responsabilidade social na criação de ações sociais.

Em 2014, iniciou o NAS que hoje tem e busca intervenções sociais que possam ser replicadas e se tornarem políticas públicas para atender as diversas populações em situação de vulnerabilidade social. No centro, todos os departamentos do Sedes estão envolvidos. Betania contou sobre a importância da arte e da arteterapia nas intervenções, sendo uma linguagem acessível e que favorece a autoestima, a comunicação, a criatividade, o protagonismo social e a ressignificação do vivido.

Após a contextualização do centro e da arteterapia, Betania trouxe alguns projetos realizados nesta área: com crianças de uma escola pública trabalhando questões do socioemocional; em creche pró saúde com crianças, pais e professores; no NAS com professores da rede pública e com idosos.

Betânia enfatizou a palavra “catalisador” (que aumenta a velocidade de uma reação). Quando a gente está junto, a gente vira catalisador. Encerrou a sua fala contando a fábula do beija-flor como um convite para todo mundo poder fazer a sua parte, tanto no cuidado com o meio e com os outros quanto consigo mesmo.

Ambos, à frente de projetos artísticos, pedagógicos e terapêuticos, no âmbito público e privado, contaram um pouco de suas experiências dentro de projetos que dialogam com os tempos atuais tão urgentes e que trazem ações transformadoras.

O evento foi mediado pelas arteterapeutas Julia Fontes e Ligia Kohan que seguiram conduzindo uma vivência arteterapêutica, na qual os participantes foram convidados a buscarem em suas casas algum elemento da natureza para observar, utilizando os cinco sentidos e, especialmente, o olhar curioso buscando a potencialidade desse elemento: a superfície, o que há dentro e no profundo (como uma semente de feijão que dentro possui um pé inteiro de feijão). O mesmo foi solicitado a experienciar, porém transpondo essa observação para os corpos: pele, fáscia, até chegar na estrutura óssea, por meio do toque sutil e/ou da massagem. Por meio da expressão artística os participantes tornaram viva essa relação, esse bioma, entre natureza, humanidade, cuidado e arte!

Foi um encontro inspirador que reforça nossa fé no poder do coletivo e da arte para contribuir com ações que transformam o agora.

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