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Roda de Conversa "Mulheres, saúde e arte: acolhimento em rede como caminho de cuidado mútuo"

Em apoio ao março feminista, o Departamento de Arteterapia do Instituto Sedes Sapientiae dedicou o seu primeiro evento do ano, realizado em 12 de março, à roda de conversa "Mulheres, saúde e arte: acolhimento em rede como caminho de cuidado mútuo", que trouxe mulheres terapeutas para falar sobre suas perspectivas e experiências a respeito das temáticas propostas pela mesa.


O evento teve a apresentação de Lígia Kohan que abriu a roda de conversa levantando a importância da luta feminista do dia 8 de março, que tem como bandeira as diversas pautas das mulheres que clamam por "um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferente e totalmente livres", parafraseando a feminista Rosa Luxemburgo. Lígia celebra a ancestralidade das mulheres transgressoras que abriram os caminhos de libertação das desigualdades de gênero e alerta que, apesar dos frágeis avanços nos direitos conquistados,

existem discussões importantes de acompanhar dentro do movimento feminista que ganharam foco na atualidade como a visão da interseccionalidade, a qual levanta as diferentes formas e graus de opressões que as mulheres enfrentam também de acordo com os marcadores sociais aos quais estão inseridas.


A primeira convidada foi Samanta Santos, uma mulher negra, mãe, psicóloga e Gestat-terapeuta. Atua na clínica como psicoterapeuta, dá aulas e palestras. Ela inicia a sua fala trazendo uma contextualização da sua clínica, que tem como foco um trabalho terapêutico comprometido com os sofrimentos específicos das mulheres negras, que precisa ser investigado de maneira bastante ampla, integrando às subjetividades construídas dentro de um contexto social.

Samanta cita que algumas de suas clientes negras não se sentiram acolhidas em

alguns espaços de atendimento onde suas dores não são devidamente legitimadas como sendo produzidas pelo machismo e racismo e levanta os benefícios ao se sentirem representadas em um processo terapêutico com uma profissional também negra. A psicóloga apresenta a sua visão e manejo na clínica de abordagem fenomenológica e com referências da bioenergética, também traz alguns exemplos de ferramentas expressivas e de linguagens artísticas para trabalhar essas temáticas com suas clientes ampliando o repertório e referenciais que abranjam as experiências de vida das pessoas negras pela literatura, audiovisual e música. Samanta também nos apresenta o conceito de "Dororidade", cunhado pela autora Vilma Piedade, que carrega em seu significado a dor provocada em todas as mulheres pelo machismo, mas que quando se trata da mulher preta essa dor tem um agravamento. A dororidade, comenta, complementa a sororidade, assim se inclui as diversidades das vivências das mulheres.


A segunda convidada foi Diovania Maria, psicóloga clínica e social, professora universitária na UNIFAVIP (Caruaru-PE) e artista do bordado e da performance. Ela inicia a fala traçando sua atuação híbrida que costura a sua vivência na psicologia e na arte e nos conta que utiliza como elemento fundante de suas práticas a memória que, ao ganhar a materialidade de um gesto sensível, pode auxiliar no contraponto ao excesso de racionalidade ao qual somos hiper estimuladas. Discorre sobre suas bases epistemológicas decoloniais que orientam a sua atuação por uma ética

sentipensante, que sente e pensa com a potência do corpo inteiro. Apresenta uma série de bordados que fez ao estimular criativamente os seus alunos na produção de conhecimento sobre saúde conectado às experiências expressivas.

Diogivania costura sua fala com alinhavos interseccionais ao trazer reflexões profundas sobre o contexto histórico e social brasileiro e sugere que precisaremos realizar coletivamente um processo de elaboração deste luto coletivo há muito acumulado, especialmente pelas pessoas pertencentes às classes vulnerabilizadas por uma política de terror, citando Achille Mbembe. Diogivania nos provoca a pensar e sentir de que maneira a arte nos chega como uma possibilidade de suportar esses tempos e de caminhar cultivando a vida como estratégia de resistência.


A última convidada foi Júlia Fontes, arte educadora, artista da cena e arteterapeuta, que teve como missão costurar as temáticas abordadas na mesa com a Arteterapia. Ela inicia a sua fala apresentando o caminho narrativo que pretende seguir, onde primeiro "descostura" o título da mesa para, então, construir uma lógica que alinhave as temáticas abordadas. Em MULHERES, ela discorre brevemente sobre o contexto estruturante machista brasileiro como produtor de opressões com as pluralidades, os corpos, as subjetividades e a

criação autoral das mulheres. Em SAÚDE, ela pergunta quem cuida das cuidadoras "universais" e aponta a Arteterapia como aliada no cuidado e promoção de saúde das mulheres. Em ARTE, ela apresenta a potência transgressora da arte e fala da relação das mulheres dentro deste universo. Em REDE E CUIDADO MÚTUO, ela sugere que o cuidado é circular e que mulheres em roda ganham uma força de transformação individual e coletiva ampliada que podem gerar mudanças estruturais promotoras da emancipação, equidade e libertação. Júlia finaliza sua fala trazendo dois trabalhos de Arteterapia em contexto grupal que realizou com mulheres e traz um relato de uma cliente ao participar de uma roda arteterapêutica com outras mulheres.


A seguir convida Natália Pieczarka que é psicóloga, Gestalt-terapeuta, arteterapeuta e artista da cena, para juntas facilitarem uma vivência arteterapêutica oferecida às participantes do evento, convidadas e público. A vivência inicia com uma leitura em dupla, por Natália e Júlia, do poema da Conceição Evaristo: "Fêmea-Fênix". Em seguida, Natália puxa uma prática de interiorização e consciência corporal convidando as participantes a sentirem os atravessamentos da poesia lida. Para finalizar as participantes são convidadas à

trazerem palavras ressonantes que expressem o que sentiram pela escuta interna. As palavras puderam ser trazidas pelo chat e também pela ferramenta online Mentimeter, onde foi possível criar uma nuvem de palavras, uma materialidade que expressasse os afetos coletivos trazidos pela vivência. O evento se despediu do público com as falas finais das convidadas e um espaço para perguntas do público.




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